No novo episódio do Dadocracia, João Paulo Vicente conversa com Rosana Moore, pesquisadora do Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Fernanda Rodrigues, coordenadora de pesquisa do Instituto de Referência em Internet e Sociedade (IRIS) para falar sobre discurso de ódio e racismo científico em grupos e canais do Telegram.

Esse episódio foi inspirado em uma investigação do The Guardian e da organização Hope Not Hate sobre como há um movimento orquestrado para difusão de conteúdo relacionado a racismo científico. Uma consequência problemática disso é a reprodução por ferramentas de Inteligência Artificial utilizadas em buscadores online desse tipo de pseudociência.

O termo “Racismo científico” é definido pelo National Institute of Health dos Estados Unidos como um “sistema organizado de mau uso da ciência para promover crenças científicas falsas em que grupos raciais e étnicos dominantes são compreendidos como superiores”.

Em outras palavras, é uma tentativa de usar a ciência para provar a hierarquização de raças. Em uma entrevista para uma matéria do UOL cujo título é “A Ciência justifica preconceitos?”, a socióloga Letícia Ferreira Neto resume o conceito de uma forma simples e acessível:

“No século 19, como tudo era científico, os pensadores tentavam justificar tudo pela ciência. Eles vão tentar usar os métodos científicos para mostrar o porquê de eles estarem certos. E esse pensamento passa a acreditar que realmente a raça branca é a única raça boa da humanidade. Que ela é a única raça que vai sobreviver. E que é uma raça que pode dominar as outras porque ela é perfeita”.

Apesar dessa discussão não ser recente, ela voltou a ter destaque. Nos Estados Unidos e na Europa, o racismo científico tem sido muito utilizado por políticos e grupos que têm um discurso violento contra a imigração. Durante o episódio, Rosana comenta sobre como o Laboratório de Humanidades Digitais tem monitorado esse tipo de conteúdo no Telegram, como ele se reproduz em diversos canais e sobre o perigo do uso do racismo científico difundido nesses espaços como argumento em discussões em outros ambientes digitais.

Ela explica que apesar da atuação observando grupos bolsonaristas e os grupos de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o trabalho seguiu para além desses objetos de estudo, começando a acompanhar também as motivações de apoio ao então presidente e outros problemas sociais e sociológicos a serem analisados, como reflete:

“Começamos a perceber como o racismo se expressava nesses grupos e canais. E aí há uma vasta literatura internacional que discute o discurso de ódio nas plataformas digitais. Começamos a observar isso também nos grupos que estávamos acompanhado. Circulam muitos vídeos, gifs, imagens, sejam imagens do dia a dia do comum, sejam imagens produzidas, por exemplo, por IA”.

Além desse tópico, o episódio discute também sobre a corrida desmedida por aplicações de IA, trazendo uma reflexão sobre os riscos que essas ferramentas podem trazer ou como elas podem acabar reforçando vieses e preconceitos. Entre outras problemáticas, tem ainda a questão da moderação, visto que esse tipo de conteúdo continua a circular sem nenhum questionamento por parte das plataformas. De acordo com Fernanda, atualmente estamos passando por um momento bem simbólico em torno da IA, como complementa:

“Eu acho que hoje em dia, na ânsia de a gente avançar na inovação, o desenvolvimento tecnológico, a inteligência artificial tem ganhado cada vez mais espaço. E eu acho que as empresas, de certa forma, não estão incluindo aplicações de seus serviços, seja com uma razão boa ou não, acabam se sentindo para trás nessa corrida. E isso faz com que a inovação seja adotada sem que a gente tenha alguns parâmetros mínimos”.

Mas é possível existir uma espécie de troca ou orquestração de conteúdo dentro desses canais? E em que momento o racismo científico ou menções ao racismo científico aparecem nesses grupos?

Para saber mais sobre o tema e ouvir a conversa completa, ouça o novo episódio do Dadocracia “O racismo científico online”, já disponível para escuta nas principais plataformas de áudio. Ouça agora!

O roteiro deste episódio é de João Paulo Vicente. A produção é de Alicia Lobato e Pedro Henrique Santos. A edição de som é da Vega Films.

E se você tiver alguma pergunta ou sugestão, pode enviar sua mensagem para o [email protected].

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