No último  episódio da série especial de eleições do Dadocracia, podcast oficial da Data, João Paulo Vicente conversa com David Nemer, antropólogo da tecnologia e professor da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, para fazer uma análise sobre o papel da internet e redes sociais nas eleições municipais de 2024. Além dele, participa também do episódio Matheus Soares, repórter do *desinformante, que fala sobre os resultados encontrados pelo Observatório IA nas eleições, uma parceria do *desinformante, Aláfia Lab e Data Privacy Brasil, que teve o objetivo de mapear e registrar casos de uso de IA generativa durante as eleições brasileiras de 2024. 

Com o término das eleições de 2024, foi possível analisar os diversos fatores que influenciaram os resultados. Este episódio de encerramento da série especial de eleições teve como objetivo entender qual foi o impacto da internet e das redes sociais neste processo eleitoral. Diversos candidatos de extrema direita tiveram um desempenho muito acima do esperado, com campanhas baseadas principalmente nas redes sociais. Mas o que isso significa? Os números das redes sociais têm conseguido refletir também na vida real? 

Além dessas questões, outras dúvidas surgiram durante o período eleitoral, como a de que os candidatos de esquerda não dominam tão bem a linguagem digital das redes como candidatos da direita. No episódio, David Nemer, professor da Universidade da Virgínia, afirma que esse argumento é “extremamente falho” como explica: 

“Parece não compreender a dinâmica em que se tornou as campanhas eleitorais no Brasil,  principalmente quando se tem uma presença muito maior da extrema direita nessas últimas eleições do que antes. Essa é uma direita, por exemplo, que não obedece qualquer tipo de regra para fomentar e amplificar desinformação. Para eles, tanto faz”. 

David complementa que à esquerda no Brasil vem sendo colocada em uma posição onde suposições e alegações são rapidamente taxadas como “corruptas”.  Dessa forma, pensar em estratégias para atingir o eleitor dentro de seu ecossistema tem se tornado complexas. Ele complementa também que atualmente as redes sociais tem favorecido um lado em detrimento de outros, como analisa: 

“Já é sabido que os algoritmos das redes sociais promovem discursos que tange emoções negativas como ansiedade, medo, terror. E não é por acaso que as informações que vêm da extrema direita e delas tendem a ser carregadas desse tipo de sentimento. E aqui nós temos novamente o algoritmo prevalecendo esse tipo de conteúdo que promove medo, ansiedade e carregados de mentiras. Como que as redes, infelizmente têm um lado bem definido e como eles promovem esse lado? Porque deixa cada vez mais claro e derruba cada vez mais esse mito de que a tecnologia é neutra, não existe tecnologia neutra, nunca existiu”.  

No episódio, é abordado também os resultados do mapeamento realizado pelo Observatório e publicado no fim das eleições,  onde foi possível analisar que, apesar dos esforços do TSE, candidatos continuaram a fazer uso da Inteligência Artificial sem avisar o eleitorado. No entanto, dados coletados entre os dias 16 de agosto até 6 de outubro mostraram que a impressão de que haveria um uso massivo de IA nas campanhas não se confirmou. Foram identificados usos pontuais e, na maior parte dos casos, sem grandes repercussões. 

Para Matheus Soares, repórter do *desinformante, o receio que surgiu nas eleições e a preocupação do impacto do uso de IA  durante esse período, não era um receio sem fundamento. De acordo com ele era “um receio que foi sendo construído nos últimos anos, principalmente quando a imagem interativa ganha tração. Ela começa a ser popularizada”, e acrescenta: 

“A gente vinha acompanhando esse cenário internacional e justamente com a preocupação do que poderia acontecer aqui no contexto regional do Brasil. E a partir do mapeamento do Observatório, a gente identificou que, de fato, o uso massivo dessa tecnologia pelos candidatos e também para criação de peças informativas não ocorreu. Mas isso, por outro lado, não quer dizer que essas tecnologias não foram utilizadas”.

Para saber mais sobre o tema e ouvir a conversa completa, ouça o novo episódio do Dadocracia “Eleições: uma análise final e os resultados do Observatório da IA”, já disponível para escuta nas principais plataformas de áudio. Ouça agora!

O roteiro deste episódio é de João Paulo Vicente. A produção é de Alicia Lobato e Pedro Henrique Santos. A edição de som é da Vega Films. 

E se você tiver alguma pergunta ou sugestão, pode enviar sua mensagem para o [email protected].

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